Dia desses, li no Facebook um texto que havia sido compartilhado por um dos meus amigos, infelizmente não lembro a autora, nem achei o texto exato, mas versava sobre o trabalho que dá trabalhar e era mais ou menos assim:
'Alguém questionou uma doceira sobre o valor do cento de docinhos prontos, pois achou o valor caro.
MUITO caro para um docinho de leite condensado, chocolate, confeitos e pelotines.
A resposta da doceira foi perfeita:
_Feitos em casa, talvez sejam estes os ingredientes do seu docinho. Mas feitos na minha empresa os seus doces consomem o meu tempo. Dedico tempo para comprar os ingredientes no atacado porque sai bem mais em conta, o atacado não é na esquina da minha casa, ali é a rede tradicional de supermercados, que cobra mais caro pelos seus quatro ingredientes. Não posso ir caminhando até lá, é longe e eu não trarei apenas os ingredientes da sua encomenda, sou uma empresa, tenho outros pedidos, o seu não é filho único. A ida até lá consome a gasolina do meu carro (para nem falar de outros componentes), a passagem do ônibus, o metrô, ou o táxi. Seus docinhos serão feitos com as horas do meu dia, a chama do meu fogão, a eletricidade que eu pago vai iluminar a noite na cozinha, porque você quer doces fresquinhos no turno da manhã, e a noite eu preciso de lâmpadas para que seus doces fiquem perfeitos, eu preciso enxergar meu trabalho ou os seus docinhos. Eu não posso colocar os docinhos numa sacola de supermercado, precisarei de uma caixa para armazená-los e penso(às vezes eu penso), que você não os queira colocados na caixa gratuita de alvejante do supermercado.
Ah, ainda têm este tempo que escrevo a sua mensagem. Sim o meu tempo é dinheiro e não, não sou mercenária, menos ainda milionária, acredite, o carteiro perde o cartão no Natal, mas todos os meses as contas chegam na caixa do Correio, nesse aspecto o danado do carteiro é certeiro! Eu não tenho o nome sujo na praça, eu pago todas as contas que chegam na minha caixinha. Pago, com dinheiro proveniente do meu trabalho, aquele de fazer os seus docinhos.
Eu sou humana, não sou uma máquina, eu não trabalho 24 horas, eu preciso dormir e dar conta de outras tarefas, então o custo do meu trabalho é referente as horas úteis, certo? Não se perca na soma.
Ah lembrei, você ainda quer seus docinhos entregues em casa, para não ter trabalho em buscá-los.
É justo, muito justo, afinal têm trânsito, está calor, e só para pegá-los vai fácil uma hora do seu bairro até o meu, apesar de sermos vizinhos. Realmente o trânsito está saturado e pagamos caro os nossos impostos... Eu pago, você também não? Ok, você não virá buscá-los, mas eu terei o trabalho de entregá-los, certo? Não! Eu tenho outras encomendas para dar conta, lembra? Precisarei que alguém faça o favor para mim, poxa agora lembrei que esse tipo de favor ninguém faz, vou ter que pagar o entregador, afinal, não vou discutir, é o trabalho dele, e ele também deve ter contas para pagar.
Você está somando tudo? Soma então, a entrega! E, não pára por aí, você conta que eu prepare os seus doces com higiene, presumo que sim. Aí tem mais uns itens para por na lista, por favor, some as luvas que eu uso, e mais a limpeza da cozinha, pois infelizmente ela não é auto-limpante. Mas juro, é bem limpinha. Limpo bem os cantinhos. Ah! As panelas também estão neste pacote, preciso detergente, esponjas, panos de prato...
Pensando bem, acho até que estou cobrando barato, preciso rever minha tabela!
Serão quantos docinhos mesmo???'
Acreditem, na íntegra o texto era muito, MUITO melhor e se alguém souber a autora, faço questão de citá-la. O texto original é de Dani Avelino.
Tudo isso para dizer que algumas pessoas tem o artesanato como profissão, como trabalho e entenda que trabalho requer estudo, pesquisa, dedicação, tempo para testar, modelar, moldar, executar, refazer...
Há investimento em material de qualidade, há cuidados na fotografia bem feita, cuidado em achar um nome criativo, um modelo inovador. Para nem falar nas burocracias (e valores) que envolvem a legalização profissional. Quem trabalha com arte não está brincando. Não é um passa-tempo, nem é um hobby. É sim, trabalho e trabalho duro.
Sim, você pode ter o artesanato como passatempo, como lazer, apenas como hobby e você é privilegiado pois há um sem fim de passo a passo gratuitos pela internet, outro tanto de vídeos de técnicas no youtube. Uma penca de revistas gratuitas no Picasa e um universo de imagens no Google (que não significam imagens sem dono). Há cursos de capacitação artesanal gratuitos (veja na prefeitura do seu município, SENAI, SENAC...).
Há espaço para todos! Há muito espaço. Até sobra espaço. Procure o seu espaço. -"ADO, -ADO, cada um no seu quadrado". Lembra disso?
Agora cá entre nós, em segredo, de cantinho, não espere que um profissional, aquele que trabalha(e paga impostos) com o artesanato vá divulgar suas fontes, seus contatos, fornecedores e suas modelagens gratuitamente porque ninguém deu nada a ele. Ele formou uma rede de trabalho e isso não se constrói da noite para o dia. É o mesmo que pedir ao médico que envie a cura de uma doença por e-mail e tudo bem se a mensagem não puder ser única, você aceita que ele a fracione em vários arquivos. Ou pedir que o dentista faça sua revisão dentária pela webcam. Ou ainda pedir que o padeiro coloque o pão nosso de cada dia, na mesa, todos os dias e de graça! Tem até graça isso!
Entendam, pode haver docinho mais barato no outro bairro. E talvez haja. Vivemos numa democracia, você têm todo o direito de comprar(ou não). Assim como o vendedor têm direito de vender. Você ainda tem a opção de buscar o que é 'parecidinho' porque a vida nos dá escolhas. Você tem o direito de fazer o que quiser, de procurar um concorrente, de executar melhor e até se tornar um concorrente, se for capaz! Ninguém irá negar o seu mérito. Você têm direitos.
Mas sinto informá-lo também têm deveres, entre eles respeitar o que têm propriedade. Pois é, DIREITOS e DEVERES... Deveres anda beirando o desuso, mas ainda não foi abolido da Constituição, diz lá: 'direitos e deveres dos cidadãos'...
Ah, voltando aos docinhos, fazê-los em casa é mais barato. Mas dá trabalho, ahhhhh como dá!
E não, ainda não inventaram a fórmula de trabalhar sem ter trabalho algum, seria quase a Fórmula do Amor. Olha aí, esta pode ser a sua chance. Invente-a (poxa, isso também dá trabalho).
E que Nsa. Sra. da Maria Mole, acuda os que só querem moleza da vida e perdoe esta minha brincadeira com a religião.